Estresse. Uma interpretação de nossas circunstâncias.

Como reza a lenda, o ano começa depois do carnaval. Chegou o momento de dedicar força total aos nossos projetos para o ano. Mas, tem algo que vem junto e que precisamos aprender a lidar: o estresse.
A sabedoria antiga diz que o estresse não é uma força externa imposta a nós, mas sim uma resposta interna governada por nossas interpretações e julgamentos. Os estóicos, como Epicteto e Marco Aurélio, já escreviam sobre o estresse, falando que nossas reações não decorrem dos próprios eventos, mas de nossas interpretações. Epicteto declarou a famosa frase: "Os homens não são perturbados pelas coisas, mas pelas opiniões que têm delas"; já Aurélio escreveu: "Você tem poder sobre sua mente - não fora dos eventos. Perceba isso e encontrará força." A filosofia budista fortalece essa ideia com seu princípio central de Dukkha, muitas vezes traduzido como "sofrimento" ou "insatisfação". Ela diz que nosso estresse vem de nosso apego aos resultados. Cultivar a atenção plena e o desapego pode remodelar nossas perspectivas e, portanto, nossas respostas ao estresse. O estresse, em sua essência, é uma interpretação de nossas circunstâncias.
Existem três fases distintas de estresse: alerta, resistência e exaustão. A primeira fase, fase de alerta, é analisada como uma fase positiva do estresse. Nessa fase o sujeito se depara, inicialmente, com um agente estressor e uma condição de alerta, e se coloca fazendo o organismo se arranjar para “lutar ou fugir”. Caso esse estressor tenha uma duração curta, a adrenalina é extinta, retornando ao estado de origem; assim, seu organismo físico e emocional não terá dificuldade de se adaptar, sem prejuízo ao seu bem-estar. Dessa forma, o estresse é um esforço saudável, acontece um acréscimo na produtividade e o indivíduo pode usufruir do estresse em seu favor, em razão da motivação, do entusiasmo e da energia produzidos. É a fase marcada pela forte produção e atuação da adrenalina, fazendo com que o indivíduo fique atento, forte e muito motivado.
A fase de resistência ocorre caso a fase anterior prossiga, onde o estressor é mantido. Nesta segunda fase, o sujeito concentra toda a energia adaptativa para equilibrar-se novamente. Entretanto, caso a fonte de estresse permaneça, o organismo pode ficar suscetível às doenças. O sujeito em condição de estresse poderá passar da condição de alerta para o de resistência em segundos. São dois os sintomas que aparecem nesta fase: a sensação de desgaste generalizado sem causa visível e dificuldade com a memória. Muitas alterações podem acontecer em termos do funcionamento das glândulas suprarrenais: a medula diminui a produção de adrenalina e seu córtex produz corticosteroides. O organismo poderá estar enfraquecido e mais vulnerável às doenças; contudo, se o estressor for eliminado, o sujeito poderá voltar ao estado normal. Muitas doenças começam a aparecer nesta fase e em meio a elas, como picos de hipertensão, herpes simples e psoríase e até o diabetes nas pessoas geneticamente predispostas a ele.
A última é a Fase de exaustão, e é a mais negativa do estresse. Essa fase acontece quando o estressor persiste por mais tempo ou quando outros eventos ocorrem ao mesmo tempo, evoluindo o processo. Assim, instala-se a exaustão psicológica e física, e as doenças aparecem. Além dos sintomas da primeira fase, vamos perceber a insônia, problemas dermatológicos, estomacais, cardiovasculares, instabilidade emocional, apatia sexual, ansiedade aguda, inaptidão de tomar decisões, anseio de fugir de tudo, dúvidas e irritabilidade.
Mas como gerenciar sua resposta ao estresse, incluíndo a ansiedade? A primeira coisa a fazer é estar atento aos sinais físicos e mentais que acompanham as consequências. Por exemplo: alguém diz algo de uma maneira específica, ou você reconhece uma linguagem corporal que parece errada e, antes que você perceba, você fica furioso ou sente todos os músculos do seu corpo tensos. Essa resposta integrada ajuda a nos proteger, contornando a parte poderosa, mas lenta, do cérebro, e nos prepara imediatamente para a ação quando sentimos ameaças. E isso pode também acontecer em uma situação desafiadora do seu dia a dia. Os resultados do estresse muitas vezes acontecem automaticamente devido a respostas aprendidas que desencadeiam momentos fora do controle de nossas mentes conscientes.
Para ajudar a interpretar estes momentos, pense em uma experiência que encapsula cada estado. O que aconteceu, como você respondeu e que sensações físicas e pensamentos ocorreram? Ao longo do dia, identifique quando você passa para estados diferentes – o melhor momento para fazer isso são os momentos mais desafiadores. O primeiro passo para a mudança é sempre a atenção e a conscientização; com ela, você pode escolher como reagir.
Assim como segmentamos tarefas para administrar o estresse, a ideia é reformular nossa perspectiva para transformar o estresse de uma força avassaladora em um aspecto administrável de nossas experiências. Abraçar os desafios em vez de fugir deles nos permite transformar o estresse de um obstáculo intimidador em um orientador.
Então, lembre-se: da próxima vez que você se encontrar sob uma nuvem de estresse, você tem o poder de reformulá-lo. Sua percepção, sua opinião, o tamanho e a importância que você dá a ele, permite que você molde seu estresse e não, que ele molde você.