A hipermodernidade

Muitos sinais nos levam a pensar que entramos na era do hipermoderno. A era do hiperconsumo e do hipernarcisismo que assinala o declínio das grandes estruturas tradicionais do sentido e a sua acepção pela lógica da moda e consumo. Os indivíduos hiper modernos são mais informados, mais desestruturados, mais instáveis, mais vítimas das tendências, mais abertos, mais influenciáveis, mais críticos, mais superficiais, mais céticos e menos profundos. O que mudou foi o ambiente social, o desapego as tradições e o medo continuo face a um futuro incerto. Neste ambiente, acontece uma competição liberal exacerbada e um desenvolvimento desenfreado das tecnologias da informação.
Que relação o sujeito contemporâneo tem com o tempo, que faz com que existam tentativas e crenças em eternizá-lo e como a pressa está inserida nesse contexto? Por um lado, a pressa no acesso aos objetos de consumo; por outro, a necessidade de postergar o encontro com a falta. No discurso hipermoderno, que traduz a lógica temporal contemporânea, a pressa é justamente para não concluir, para que uma verdade não possa emergir, a evitação do enfrentamento. A lógica do consumo favoreceu a emergência de um indivíduo mais senhor de sua vida, mas sem ligação profunda à personalidade, que tem necessidade de uma moral espetacular, capaz de imprimir um registro no ostentoso e no superficial, de valorizar a sedução e o divertimento, por isso se adaptam ao fato de que o desenvolvimento do raciocínio pessoal passe cada vez menos pela discussão entre os indivíduos e cada vez mais pelo consumo e pelos meios de informação. O sujeito hipermoderno, desprendido do passado, ainda carrega os mesmos sintomas do indivíduo do século XX, sendo igualmente afetivo e relacional. A aceleração não aboliu a sensibilidade em relação ao outro nem a paixão do qualitativo; ainda tem as aspirações de uma vida equilibrada e emocionalmente estável.
A aceleração generalizada, a febre do consumo, o desaparecimento das tradições e das utopias, teriam conseguido criar a civilização do presente perpétuo, sem passado, nem futuro, do qual falava George Orwell? A obsessão moderna com o tempo já não se concretiza unicamente na esfera do trabalho submetido aos critérios de produtividade, ela tomou posse de todos os aspectos da vida. A sociedade hipermoderna aparece como aquela em que o tempo é cada vez mais vivido como uma preocupação maior e se generaliza uma pressão temporal crescente. Já não se trata mais de classe contra classe, mas de tempo contra tempo: futuro contra o presente, presente contra o futuro, presente contra o presente, o presente contra passado. A hipermodernidade funciona segundo a lógica da reciclagem permanente do passado e nada parece escapar ao seu império.