Qual o papel do "pai postiço"?

Qual o papel do "pai postiço"?
Arquivo pessoal

“Vamos abrir uma conta e guardar dinheiro para uma surftrip de pai e filha! ”Terminei meu jantar com este convite da minha enteada Isabella, de 25 anos. Ela tem um irmão gêmeo e uma irmã com 27 anos. Os três são filhos da minha ex-mulher com quem fui casado por 10 anos. Em 1998, decidimos morar juntos. As crianças, entre 5 e 7 anos aceitaram bem a decisão de um “estranho” morar na sua casa e eu, aos 28, assumo o papel da figura masculina em uma casa estabelecida e funcionando. Ainda existiam conflitos da separação entre o pai e a mãe e as crianças estavam sempre no meio dos debates. Eu tentava trazer um pouco de equilíbrio para a atmosfera e minimizar as tristezas dos pequenos. Logo tentei conquistar a confiança sendo sempre verdadeiro e acolhedor. Procurei trazer meus valores na educação, mostrando como construí minhas conquistas e expondo minhas vulnerabilidades. Dei limites e fui duro quando o momento exigiu. Propus castigos com o coração partido e nos divertimos como se não houvesse amanhã. Acredito que o amor paterno seja este exercício de atenção plena, pois estamos criando estruturas emocionais e construíndo alicerces para uma vida adulta equilibrada. É uma enorme responsabilidade. Ainda mais quando falamos dos filhos de outras pessoas. Esta atenção e equilíbrio nas atitudes, como marido e “pai postiço” é o que faz a diferença no ato de educar seres humanos para quem está nesta posição.

É inevitável. Você tem que se envolver. Começa com ensinar a comer com a boca fechada até ir buscar nas baladas às 5 da manhã, já adolescentes.

Alías, ouvi deles anos depois e já adultos, que ir buscá-los nas festas, demonstrava o profundo amor que eu sentia por eles. Nada mais gratificante. E claro, não podemos esquecer da relação. O que pode ser mais importante para uma mulher do que os filhos? Temos que cuidar de quem nossa mulher mais ama! Com relação ao pai, ao longo do tempo, os animos serenaram e pudemos ter uma boa convivência. Nunca tentei substituí-lo e sempre respeitei as decisões finais mesmo que não concordando. Mas sempre tive espaço para debater e somar ideias, dividindo preocupações e combinando atitudes, visando o melhor para a educação dos três. Minha experiência, como pai postiço, não poderia ter sido mais enriquecedora. Ganhei uma história de vida incrível e três seres maravilhosos, únicos e independentes. Procuro nutrir nossa relação, uma década depois. E o resultado é uma trip de surf para o Peru, planejada pelos dois, só nós dois.

Torcendo para ter onda na viagem! E sim, ela é surfista!

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